queria desenhar
mas preciso desdenhar
já que você não sentiu
falta do Roberto
mas deixou morrer as flores
do meu jardim
dentro de mim
queria desenhar
um
barco
um arco
e nós dois no cais
mas sofri de ais
afogando-me
no azul do sonho
e de teu sono mais profundo
calado, seu silencio
e meu rosto mareado
um navegar salgado
queria desenhar
uma reta de arquiteta
um balaustre pra me jogar
como se fosse uma peteca
na cabeça cheia de penas
cores e mais cores
no pensamento
dentro das dores e penas
que tenho de mim
queria desenhar
o
começo
que foi tão avesso
aquele fim sem ponto
um beijo e pronto
meu corpo esguio
minguando em sangue
como lama do mangue
de tanto engano
queria desenhar
as mãos tão lindas
mas os anéis não existem mais
os tapas foram cruéis
e nos distanciamos
igual sem linha
nos carretéis
queria desenhar
o meu sim e o teu
na promessa divina
de nós dois pra sempre
pra sempre, pra sempre
o eterno no universo
fostes perverso
e pecador e pecador
queria desenhar
teu sorriso
e minha dor
como linha rompida
o corte e a veia
e já uma velha
tão velha cicatriz
queria alguma coisa
redesenhar...
Cintia Thomé
maio 2012
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