"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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2 de out. de 2011

CORRENDO DO QUE PARECE QUE PASSOU











Corri, corri pra valer... e o vento foi levando um pedaço da minha pele, minha unha quebrou resvalando com meu olhar a uma casca de arvore que caiu, com certeza, uma folha encolheu, um fruto pendeu com mais vontade ao chão. Um passarinho corre no céu e deixa atrás de si também migalhas, quem sabe tudo o que construiu. A chuva é a lágrima que nada detém, nem sobra nada do que nós sentíamos fervor. Os que deixaram a casa, o ninho. A casa do peito está vazia, se afugentaram e só a dor carrega até furar o telhado ou o chão... Eu e o pássaro. A tentativa do pássaro é refazer-se. A minha também. Ofegamos, mas decididos em alguma outra paragem, essa absoluta nova paisagem, mas nosso olhar é velho, esconde dor subcutânea, uma alegria também na memória, um sulco nos olhos e no canto do olhar arde, alguma coisa sublinhar como um cisco. O Adeus ao Amor. O amor. Amor de ontem a insistir, uma invasão, mas premente para fugir dela. Sim, correr é fugir, não importa que estejamos cansados, mas queremos construir e quem sabe, as paisagens, as coisas, o fruto na nossa mão para morder e cuspir e pensar que ainda tudo vale alguma coisa. Apenas eu o passarinho somos coisa alguma, mas falta. Falta nomes ou um você que conheci e me abriu a trilha para correr. Era a verdade de mim, que desconheço, pois ainda busco entendimento dos pedaços, das migalhas de nós virando hoje pó, poeira...
Desperta, olhe o vento.




























Fottos: autoria Akos Major-Budapeste

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