"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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12 de out. de 2011

MANDEM PRESENTES PARA MIM


MANDEM PRESENTES PARA MIM (Antonio Calloni)

mandem presentes para mim
muitos presentes
muitas caixas
volumosas
pequenas
com laços
ou sem

mandem presentes para mim

muitos presentes
artesanais
industriais
com afeto
com defeitos

mandem presentes para mim

com embrulhos originais
comuns também servem
leves
pesados
perecíveis
eternos

mandem presentes para mim

mandem a espingarda paterna inutilizada
o Santo Antonio da mãe
a casa eterna da infância
as irmãs restituídas
a avenida de nome Iraí
onde a merda da rima nasceu
lugar onde eu cresci

mandem presentes para mim

do céu
do inferno
do pai
do filho
do espírito nem sempre santo

mandem presentes para mim

mandem caixas
e mais caixas
mantimentos
coisas inúteis
(fundamentais para o bom funcionamento
da alma)
objetos com design moderno
um sentimento

mandem presentes para mim

mandem desespero
tempero
um par de alegrias
alergia eu já tenho
mandem um teto solar
o sexo da puta
mandem dinheiro
relógios de ouro
mandem meu reflexo
uma armadilha
mandem a história de Narciso
para eu embrulhar o peixe

mandem presentes para mim

muitas caixas
brinquedos
bonecos do Star Wars
quero viver com sorte!

mandem presentes para mim

se não mandar eu mesmo compro
sem parar
que a tristeza é tão indecentemente óbvia
quem falar em carência leva um tiro!
quem falar em sublimação é um bosta!
meu desejo é legítimo!
quero vencer a morte!
quero vencer a morte!
quero vencer a morte!

mandem presentes para mim


©Antonio Calloni

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