"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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9 de jun. de 2011

MENSAGEM IDENTIFICADA POLLOCKIANA




Mensagem Identificada (Pollockiana)


Joguei todas as tintas
Pisei todas as cores da vida
A tela tombei num vai e vem
Transmutei todos os adjetivos a mim
Fundo branco uma areia rala
Pingos de chuva , garoa paulista
As cinzas de Paris, a prata de Salt Lake
Do chumbo da guerra nos dentes da Espanha
Na metralhadora do Vietnã à Palestina
Tossidas do fog londrino
à fumaça de Hiroshimas

Castelos aguados, paisagens de Van Gogh
Amarelos e noites densas
Roubaram-me das galáxias, às galerias
Joguei-me dos edifícios no poema e poesia
De Ana C. aos cânticos de Salomão
Borrões de ácido do canhão
Lavei-me nas geometrias e traços
Em azuis de Gagarim
Dos Astronautas das tantas luas
E em papagaias e escadas de Tozzi
Esboços, moldando caminhos
Vermelhos e sangues da soberba
Em azulões, balões de quadrinhos
Dos ferros contorcidos da existência,
Aspirais de Lígia e Bonomi

Pollock fui, uma libertina, solta, arrogante
Livre em telas e abalei mundos
Cabeças de cera de Tussauds, ossos derretidos
Bustos e peitos em leite de pedra
Uma morena ninfa de Gauguin
À Marylin de Andy Warhol
Fui célebre por quinze minutos, uma sina
No meio de presidentes, pobres dementes
E suas descargas na latrina

Fariseus virtuosos conheci,
no desvio das correspondências
Nas energias em manchas, sinais verdes
Entre cambuís e flamboyants da Campinas
Ganhei meu amor, a palmeira imperial!
Amores todos!
Andorinhas cantam o adeus

Um telefone desligado, telegrama sem nome
Perdi meu amor, perdi!
No óleo, oleado de mares minhas fugas
Nas cópias em mapas e rios, soltos torrões
No grafite da Bahia à Paulista
Nos troncos em fogo
Apagados de Frans Krajcberg
Nos orixás na dança de Carybé
Estou no mar poluído naufragando
Animais e peixes de Pedro Alexandrino
Das cabeças de Cícero Dias à barca de Noé
Nas visões do Opará e de todas as palafitas
Favelas e parangolés,
Oiticica... Viva o artista!

Vivas aos sozinhos!
No sky de Lucy
No pergaminho das escrituras
Do risco, da linha à pincelada
Da pedra ao linho
Do linho ao papel
Do sintético ao objeto elétrico
não identificado
recicla o plágio
A linha rompida do Equador
Ao on-line

Faço um pingo Pollockiano
Um Ai, um Om, um X ou Y
dos quinze minutos que restam
A fogo e a ferro ou neon
um beijo
uma mensagem teclada doida
Que assino
Com Todo Amor


cintia thome





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Adroaldo Bauer

E mais não se diga porque a musa canta
encatada estamos todas as pessoas que
a ouvimos e vemos que inflama mentes,
corações apaixonados e descrentes. Ai.
É que vai se fechando dia, mais um dia.
Ai! Ai! É que a vida não espera o ônibus,
nem vem o trem e já se vão nos desvãos
desvairados diários doídos lidos a contra
fluxo, na morte adivinhada do feio, será
o renascer do belo. E, por fim: Ai! A vida
se esvai, embora se vá com ela em fila.

Adroaldo Bauer Joenalista POA
Comentário sobre Cíntia Thomé em 2007



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