"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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5 de jun. de 2011

DOIS PRA LÁ, DOIS PRÁ CÁ


Arte de Beatriz Milhazes


Amanheço e a luz faz doer, doer... Olho fixamente para o teto, assim penso no que virá
Com certeza um dia a mais na estória desse livro que não aumenta uma página com a flor crescendo, a rosa de Hiroshima, mas ainda apenas acomoda suas pétalas que se movem numa ginástica precisa... vai o dia e o tempo é como eu num corre, corre...mas caio no escuro, na escuridão falha de algumas estrelas que piscam. Com brilho fosco.
As estrelas entornam em um balde sem esperança de ser uma delas, a rainha...rei.Rei!!! Adormeço em relutância, mas vou para o outro lado em busca do que quero no azul dos azuis daquele amor distante e sem endereço... (uma guerrilha solitária, sem encontros)
O pesadelo lúcido não me traz ninguém... Aquele que chora, pois todo homem chora, mesmo não sabendo, pois prefere a ignorância dos fatos.... Queria reviver na luz do nascer de novo, dia novo, novo dia, em companhia de quem queira me fazer bem... Não quero morrer e sim viver as coisas que aqui vejo como uma expectadora, numa cadeira, sem balanço, pois não me é permitido embalar mais nada.... só acontecimentos alheios.. O tempo é tão igual a mim, veloz no pensar, mas lento na mudança de sua estória no quarto, na sala e no telefone.... Telefone.... A negritude que vejo como mórbida, pois fala a falta, o esquecimento, o ostracismo terrível... calado faz a sua estória, a mesma que me declinam, a solidão....Na hora do chá, do café...a fumaça dança e o frio de minha alma a faz fugir...Digo :Fuja! Fuja! Vá! Sumir como todas as coisas em movimento e me deixe prostrada, como pássaro na montanha, a olhar a janela e ver que pessoas passam, passam, mas nenhuma será você. Poderá acontecer?...Uma caça. Algo vago. Fome, com certeza.
O que me delicia, como pessoa apaixonada, numa vingança dócil , a certeza que estará com um copo silencioso, sem gelo, sem fumaça quente...aguado etílico morrendo como eu...ao som fino de uma valsa...
E as pessoas passam e só o faz pensar onde estarei, a flor que dilata em pálpebras mecânicas...dois pra lá, dois pra cá...Somos um, somos iguais, tantos quereres iguais, eu e você... estrelas no balde apagando sem mais emoções...














Imagem : A. Hernandez - Lisboa _ Portugal

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