"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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24 de jun. de 2010

saltimbanco



SALTIMBANCO



Pensando na minha infância
E pensando aqui
Mordendo minha corrente e medalhas
Olhando meu ventre, minhas pernas
O quanto andei pelas cidades,
E alvitrei, recordei pelos ares dessa manhã
Sol a pino, cheiro de mato e das floreiras da sacada,
o hálito delas condena antigas lembranças
de um ontem tão hoje, tão agora na memória
Do leite entornando e pão fresco na manteiga
Perturba-me em sorriso de canto da boca
Que delata meu desdém e paciência
Por ter tido na vida homens-palhaços
Sim, palhaços, arlequins
Neste imenso mundo de diversão
Onde os amores trabalham num grande circo
Fazem malabarismos como bobos
Para seres nada humanos, farsantes
Mais do que a lágrima dos ingênuos acrobatas
Sem amor-próprio se inclinam a mulheres
Travestidas de criancinhas, caricatas
que sorriem, gargalham
Ai de mim, ai de ti, Palhaço!
Modelitos falsos pegam como Diabo
almas sofredoras pelo ouro efêmero,
esse fogo, a brasa
Não iluminam o Espírito
Conduzem à tristeza de teus trajes
aos teus pulmões, às cinzas




Cíntia Thomé
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imagem: Google.

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