"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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19 de abr. de 2010

prateada ilusão



Não vou mais te esperar
Não, não pode ser
Nem foi e nunca será
Não, a espera foi doída
Eu me resguardei desvalida
Entre a janela e a porta do quarto
E me abracei pra não chorar

E por ti sozinha cantei
Todas as canções
Todas as recordações
Todo o tempo eu morri, morri
Todo o tempo eu vivi
Fiz um filme da cor dos corações
Coloquei você em cena, que problema...
Em todas as paredes imensos telões
E não pude mudar
A estória foi tão curta tão curta...

Se fosse uma estória tão imensa
Não poderia eu agüentar
Todo esse final tão banal
Cada vez que fui adiante
Fez-me quebrar como diamante, arrebentar
Tão gingante você ficou tão real
Naquela prateada ilusão

Tento te matar dentro de mim
Mas me faz toda sangrar em poema
Se você pudesse emendar
Todos os trincados que você fez
Dentro desse meu olhar de teorema
Teria seu lugar talvez mais uma vez

Não quero mais continuar
Pois não há nada que arda
A saudade não mais vai suportar
Esses cortes de dor e de amar
Seus desvãos, esses parenteses
Nesse obscuro cinema
Não posso te esperar
Nada mais há do que o começo
Dentro de mim mesma
E esse fim


Cíntia Thomé



Where Do I Begin ?








Imagem : Olhares.

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