"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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17 de nov. de 2009

DESFLORADA ROSA





DESFLORADA ROSA

A inocência dos brasis
Terras áridas, sertão
Ser tão criança sonhada
Em todas as Europas e Américas
Há o bicho em pelo
A sagacidade, a maldade
Valentia frouxa
O bem querer querendo
O desejo tresloucado
Rapa o tacho
Da infancia doce
Preliba o alheio
Em gozos saciados
Cuspida eterna
Na carne que é tua
O sangue que não é teu
No canto, no asfalto, no cereal
Teias às tapas
Enceta peles macias
Macula honra, insulta
Estupra a vida cristalina
fica o sabor do pó
Nos corpos andantes
Desfloradas rosas
Aranhas inválidas
Uma indignação em elos perdidos
Bonecas que não crescem
Infantes, um exército de vítimas
Ao longo das íntimas existências
A insanidade cruel exalta
Presas apanhadas em ardencias
Cegos caminhos nas vielas
Nos trilhos pardos
A presença da Verdade velada
Em corações arranhados
Uma postergada
Justiça



Cíntia Thomé







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Imgem: A. Hernandez - Fotógrada/designer - site Olhares - Portugal

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