"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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12 de jun. de 2009

acredite






Acredite em mim
Uma única vez,
Olhe com meu olhar como te olhei
Meus pés na chuva e que dancei
No sol que partiu minha pele
Na andança das nuvens
No copo que quebrei

Acredite em mim
No disco que arranhei
Nas fotografias que rasguei
Nos olhos que furei
Nos cabelos que arranquei

Acredite em mim
Na mata que fucei,
Nas notícias sem você
Nas rosas que sangrei,
Nos dias que me perdi

Acredite em mim
Nos maços de cigarro que amassei
Nas pontas dos lápis que não cessaram
Nos papéis no lixo que joguei,
Nas paredes grandes retratos

Acredite em mim
No som de minha voz
Cansada de implorar, cansada
Aos santos, rosários, deuses, a você
A cabala desgovernada
Nos revoltos mares
No vento que me destruiu

Acredite em mim
Nas lágrimas, encharcado travesseiro
Nos lençóis menstruados
Na carne viva de mim

Acredite em mim
Nas horas que perdi, nos livros a nossa estória
No cortar dos pulsos de cada novo dia
No grito do aborto, no grito da morte
Nos fins...

Acredite em mim
Frases feitas não disseram nada
Louca, atrevida nua fiquei

Acredite em mim
Não diga que não viajei
Não quebre meus sonhos
Não quebre outra vez...
Dizendo que não te amei
Coragem...

Acredite em mim
Acredite em mim







CINTIA THOMÉ








Imagem-divulgação do site e foto de Kurt Tutscheck

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