"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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13 de mai. de 2009

DEIXE-ME SOZINHA





Queria poder dizer
Que te amo tanto
Deixe-me sozinha
Tenho que partir
Pra África quem sabe
Chorar nos Alpes
Ou na capela ajoelhar
Como protagonista

Deixe-me sozinha
Quero dançar
Na ultima chuva
Com a janela aberta
Arvores sorrindo
O garoto e sua bola
Com sua mãe indo embora

Deixe-me sozinha
Na galeria vazia
Sem meus retratos
No corredor um trem
E fazer performance de mim
Ouvir aplausos,
Meu eterno discurso
No meu espelho
De jornal barato, marrom
Meu diário rosa, moça

Queria dizer
Que te amo tanto
Com meus passos devagar
Junto à morte, meu azar
Vagando vazia, deserto
Pela África quem sabe
Pelo Jordão
Ipanema, mar de amar
Peladas montanhas
Himalaia
Pela Paulista, bares
Inferno!

E ainda chorar quem sabe

Deixe-me sozinha
Tenho que partir
Seja rosa ou marrom
nouvelle vague
Com a sorte, meu azar
Como protagonista

Para algum lugar
Inédito





















.Imagem Anna Karina- 'Viver a Vida' de Jean-Luc Godard

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