"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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13 de jan. de 2009

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FUGA



Vou fugindo, fugindo
Dos prédios dos tédios
Das trincas das tintas, paredes
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Das avenidas perdidas
Dos jardins, das rosas
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Das galerias, cenas de mim
Das artes loucas
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos cinemas, beijos
Chocolate, telas prateadas
Dos começos e fins
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos cavalos enluarados
Guerreiros enlutados alados
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos telhados coalhados
Dos negros gatos
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos assaltos, sobressaltos
Das sandálias, dos saltos altos
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos copos, da espuma
Da boca, dos bêbados
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Das rosetas, das catracas
Das roletas russas, alvos
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Dos automóveis, retrovisores
Das dores, abortos, horrores
Das pegadas do silêncio
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Das queimadas
Da fumaça, do plantio
nos vasos sanguíneos
De mim
Pra mim

Vou fugindo, fugindo
Da esquina, da mão única
Do encontro , da sina
Que foi
Pra mim
Pra mim


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