"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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8 de dez. de 2008

SEMENTES DO SILÊNCIO



SEMENTES DO SILÊNCIO


Na casa de meu pai
Lá eu via uma romãzeira
A sorte dentro da casa, do fruto
Sementes de paz avermelhadas
Molhadas do sêmen, útero
Fertilidade aguçada em bondade

Lá havia uma romãzeira
Com a brisa do nascer dos dias, sonhos
Lisos, planando pássaros
Abelhas rainhas zumbindo
Querendo o mel dos perfumes
E olhares se cruzavam no lume
das esperanças em chuva, felicidade

Lá havia uma romãzeira
Meu pai
Como rei da aldeia, minha aldeia
Nas cascas na tenra terra
Coração puro e sorriso
Olhares ao longe
Sementes da fortuna
Forrando o chão que criança pisava
Tapete voando com a ventania


Lá havia uma romãzeira
Meu pai
Romãs brincavam como gotas,
sumos prometendo o amanhã
Prometida Terra
Aos uivos das lobas
os gatos no telhado
Em todos os olhos, olhares
Sementes douradas

Assim havia uma romãzeira
Firmeza, sólida casa... ventre
A sorte dentro do lar, o fruto
Impregnava as folhas do olhar criança
Sustentava o querer, o alcance futuro
Rasgava sóis
À sombra, descanso
Sementes à sorte no árido
olhares silenciosos
batida terra, poeira
Só o cheiro da romãzeira
Pois lá havia... na aldeia
Um pai.




Cíntia Thomé

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