"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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9 de nov. de 2008

BLOOD MARY



Visto-me de poderosa, melindrosa
Medrosa, mas tenho lança
Escudo, uma saia kilt
Sacudo as pregas, trapos, sedução
Tiro sais dos anos
Da hipocrisia, das aspas
Ânsias contidas, azedumes
Esmago os infernos
Verto água, lavo calçadas
Lavo a escória, dou água pra beber
Ando pelas trilhas, meio fio
De salto alto seduzo
Forte, com norte e determinação
Rasgo o que visto
Mostro minha negra alma
Clareio corações, inflamo tesões
Determino destinos, volto atrás
Condeno-me por ter sido tão má comigo
Caminhando em paralelas das vidas tantas
Destino, culpa doía pelas partidas
Regresso como poeira velha, sacudo
Abro janelas, rebrilho
Cerro, fecho perfumes em vidros
Em rolhas, coalhados
Destilo nova esência
Sabor saboroso das entranhas
Química borbulha néctares, matutina
Fresca, revigoro, cataliso leites
Seios crescem, menina fico
Contando dias de ausência, reciclo fatos
Retiro chuva das faces, componho cantos
Risos na boca e lembranças
Blood Mary na cama
De gelo ao fogo
Recomponho-me, arfando assanha
Sem vestes, minha blusa cortesã
Na verdade ressurjo em nuvens
Criança sem poder...amando
Nova, novata, pura
Salsa
Hortelã

CINTIA THOMÉ


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Cíntia Thomé

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