"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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17 de jan. de 2008



CORDA SOL BACH


Nada mais recorda
A corda em sol
Cânticos, o solfejar
Estático pardal
No fio do varal
Lençol a flutuar
Na fresca manhã
Ao vento cambaleante
Chorando... Chorando...
Porque a chuva vem
Cânticos orvalhados
Respingos na vidraça
E a traça caminha em compasso
Em sol de Bach
Pelas rotas páginas,
Carta em palavras dantes quentes
Alinhadas escritas, outrora
Traçadas de uma vida ardente
Dos desejos em lampejos,
Agora, mudos, silenciosos, mortos
Gotas de chuva
O pardal no meio fio
O lençol pesado em cinzas
Recordar já não posso.
A traça vive da carta lacrada
Do vazio de amor, do nada
Nada mais recorda
Ária na corda sol
E eu, ossos.



Cintia Thomé

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