"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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27 de out. de 2010

INVEJA




A inveja que sentes de mim
Não é um presente que recebo
Sentimentos dos deficientes
E a doença corrói a si
Não é ópio, é veneno
Doce não se mistura ao limbo
Para chegar aqui recebi muita felicidade
Mesmo na crueldade dos dias
Dos encontros, dos momentos
Das desilusões, dos cortes de meus sonhos
Extrapolou sempre minha alma de esperança
Ganhei sempre, não perdi nada
Não há de se apontar erros ou acertos
Cada um é dono de sua própria estória
A minha superior a tudo
Na pobre imaginação do outro
Ninguém sabe a não ser quem a viveu
Única e de propriedade inalienável
E a minha, mais que vivida e linda
Sem parâmetros, sem igual, sem porquês
Passos altivos pelas veredas sem estranhar
A qualidade espiritual do ser humano
Nunca serei teu semelhante
Na língua o teu olhar de ódio
Nunca catalisarei, receberei
Pois o mal não está ao meu alcance
Próximo e dentro de quem me olha,
Mas não enxerga.
Cego e vazio
Ganhei sempre, não perdi nada



Cíntia Thomé







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