"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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24 de out. de 2010

Céu ao Charco , o Arco


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Tudo está escrito
No entanto ainda não queremos ler
Há uma pré leitura inconsciente
Somos inconseqüentes
Desabrochamos, nos inúmeros espelhos
A mesma face, o mesmo perfume

A juventude no talo
Esquecemos as feridas
Que brotam nas estações
Dos espinhos lacrimejantes
Nas folhas, nas mãos, calos

Crescer sempre avante queremos
No pensamento passos largos
Passos agora miúdos
Os medos sempre os mesmos
O virar das páginas ignoramos
O ruído delas surpreende-nos
Continuamos os mesmos

No fio da página, a navalha presente
Espargindo os perfumes alheios
Cada vez mais ofegantes
Nosso rosa já é bege espelho
O beijo ainda se movimenta carente

A boca gesticula segredos
Na vontade da procura corrosiva
Uma mancha sobrevivente tênue
Que está escrita sem medo
Embora se apresente evasiva

Essência contínua do amor
Do céu ao charco, cores do arco
Enxergamos da raiz ao topo
No prefácio e no epílogo
A jovem flor delicada
Que ainda floresce
Porém cansada

Cíntia Thomé









Imagem: @Cíntia Thomé

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