"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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22 de set. de 2010

paredes eleva-dor


No solto linho alinho minhas mãos
As agulhas, os dedos, meus dedais
As luvas...
Com combinação atrevida
Deito-me na nação das cidades que habito
Rendilho, faço nós, dobro esquinas
Esparramo cetins vermelhos
Sinal que fecha, sinal que abre
No leito, nesse oferecido deleite
no respeito a janela
o parapeito de tua pálpebra
teu medo de soslaio pressinto
Na renda, no emaranhado de tuas perguntas
No meio da noite, no meio das pernas
Em toda parte que alinhavo
No que não consegues decifrar
Nem com minha boca costurada na tua
Nem com meu olhar no teto
Soltando fios, fios, ais, ais
Corre abraço bordado nas paredes
Na sombra, desenhamos nos olhares
Os gritos animados, duete
Uma animação muda
Na madrugada poucos círios
Lâmpadas, faróis... leve lume
Apenas a cortina desse cinema
Desprende-se a sombra, movimento
As paredes acordam pálidas, nuas,
Ah!Infelizes!
Não se acham os laçinhos, laçarotes, nós... religare
Nas mãos fechadas no corredor
Eleva-dor
Desce, desce elevador
só se sente aperto, apertado o dia
lá fora, embora...
lá fora, embora...


Cíntia Thomé





























Foto: Google - R.Martins

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