"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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18 de mai. de 2011

Enamorado Inacabado


enamorado inacabado

Como posso deixar esse retrato tão branco,
Tão pálido, tão em pó
Se ainda existes em mim?
Perdemo-nos no tempo
Viestes descalço a oferecer
O que não tinhas
Não, não... Oferecestes ilusão
E me cobri de paixão
E não vistes nada não
Só um momento a matar saudade
eu, a amar, viver a saudade,
Um esquecimento
Um branco, uma poeira fina na memória
Que ficou nossa história
mais uma vez inglória
Como posso limpar de minha alma
O antes e o depois
Quem sabe ainda provável
Se ainda vejo você namorado
Enamorado inacabado
Como posso esquecer dois no retrato
O passado e o ontem?
O hoje? Dentro de mim estás
ainda coração apertado
E vejo nossos pés
Tão nus, descalços
À sombra entrelaçados
Como posso perder-me
Se caminho na poeira
No vazio desse retrato?
De nós dois
Tão brancos, tão pálidos
Como posso?


cintia thome






Foto: Man Ray- Electricity-1931

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