"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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25 de fev. de 2011

espelho de mim



Não me diga que não fui nada
que os cordões que carrego
amarras, pulseiras do tempo
os minutos, horas, dias
passado que repasso, não desfaço
estórias de volúpia
Sim, volúpia pela vida
Tenho o riso maroto, tenho a velha gargalhada alterada
Corri chão na querência do saber
saber do mundo, vôos, trilhos e metrôs
a verdade das paisagens múltiplas
dispares, diferenças, melodias
o up e o down
filmes desde o começo
the ends, flores estourando
cadeiras do alpendre a tarde,
fruteiras, maçãs macias
meio fio, meio fio das noites. Ah! Calçada!
becos sem saída, avenidas liberadas
o ser que amo, aquele que anos fantasio
perdido nas multidões
entre guerras e mortos
por baixo de um fio elétrico
uma conexão cósmica
uma conexão de espíritos
lindamente te visto...
Rasgo-te como cartas velhas
apago-te como círios que rezo
Corto-te em postas
engulo e esqueço-te
feneço, feneço, reconheço...
recrio, volto a buscar a face dentro das faces
buscar-te nas noites com a mão no ventre
no clitóris do coração
arfo, arfo, o lustre geme...
eu, camaleoa, você vagalume
mas adormeço, adormeço
Outro dia vazio... olhos de janela
acontecendo tudo, tudo
percorro o azul
vai chover, vai abrir o sol
quem sabe hoje, hoje? Hoje!
Preciso há séculos, milênios
do único espelho de mim, aquele que escondo
o mascarado, sim, aquele que eu conte
talvez o dia de ontem que passei
que foi tormento, tormento, um fim
os outros anos, muitos, muitos
digo que foram paciência
A procura da perfeição



Cíntia Thomé












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