"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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19 de dez. de 2009

PAREDES BORDADAS



PAREDES BORDADAS (Cíntia Thomé)

No solto linho
Alinho minhas mãos
As agulhas, os dedos, meus dedais
As luvas...
Com combinação atrevida
Deito-me na nação das cidades que habito
Rendilho, faço nós, dobro esquinas
Esparramo cetins vermelhos
Sinal que fecha sinal que abre
No leito, nesse oferecido peito
De respeito na janela de tua pálpebra
Sinto teu medo de soslaio
Na renda, no emaranhado de tuas perguntas
No meio da noite, no meio das pernas
Em toda parte que te alinhavo
No que não consegues decifrar
Nem com minha boca costurada na tua
Nem com meu olhar no teto
Soltando fios, fios, ais, ais
Corre abraço bordado nas paredes
Na sombra, desenhamos nos olhares
Os gritos animados, dueto
Uma animação muda
Na madrugada de poucas velas
Lâmpadas, faróis... leve lume
Apenas a cortina desse cinema
Desprende-se a sombra, movimento
As paredes acordam pálidas, nuas,
infelizes!
Não se acham
os laços, nós, religare
Nas mãos fechadas no corredor
Desce, desce elevador
só se sente aperto
lá fora, embora...



Cíntia Thomé


2008




Imagem: Cíntia Thomé

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