"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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25 de out. de 2009

ESCRAVIDÃO URBANA


Fotografia de André Gardenberg - Série Arquitetura do Medo no MAM BA -

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ESCRAVIDÃO URBANA

Passaram-se tantos anos
Aos navios e a negritude do mar
Navios negreiros negreiros
A escravidão esperada
Em tochas e velas acesas no mar
Chibatas e homens cabisbaixos
Ladainha e gemidos
De suores lacrimejantes
Secular livramento e lamento
Mandantes... Mandantes
Assim era antes

Passaram-se tantos anos
pela gloriosa Libertação
Tantos anos... Tantos anos
Seres unidos em elos partidos
Patriarcado desmoronado
Vence o martírio do Poeta
Ah! Alves não viu desfecho!
A abertura da fechadura
Na cor e dor
Brasilidade em dignidade
Fez-se a palavra Amor

Últimos anos, últimos anos
Sobem lanças, grades
O medo e o olhar em fios
Evocam aos Céus Liberdade
No alto do muro
Nos trincos e vidas trincadas
Elos, teias e correntes
Lanças, lanceiros
Machucam a plenitude de sonhar
Ainda alguma lança escapa
Fere, sangra, mata nas frestas
No meio da noite, sempre açoite
No lar, na rua, meio fio
Escorre calada a solidão
Ah! Alves não viu nada!
Arma branca sanguinolenta
Ricocheteando, golpeando
morrendo célula mater.
Marca negra estendida na terra, no chão
Sobrevoam navios urbanos
Sirenes, velas acesas
mandantes...mandantes
Faz-se a palavra Ódio
Assim não era antes
Não era


Cíntia Thomé



*** ALVES - Poeta Castro Alves - Poeta dos Escravos


Este texto nasceu por ter visto a exposição Arquitetura do Medo, do Fotógrafo André Gardenberg, em local que foi testemunha do Sofrimento dos Escravos, Solar do Unhão - onde hoje é um local cultural - MAM _ BA,
Mas onde estará indo a nossa Dignidade, Liberdade de ir e vir?






Foto de Andre Gardenberg - Site Oficial - "Arquitetura do Medo"

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