"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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25 de jan. de 2009

PORQUE NÃO QUERO SABER...


PORQUE NÃO QUERO SABER...

Não quero saber
Se meu violão está sem cordas,
Se ele estará sem dó, si ou lá
Meus cds partidos não vão reviver!
Se meu piano está afinado ou sem teclas,
Pois o jogarei do meu edifício.
Se o edifício implodir, ou não, dane-se!
Se há numa esquina
uma prostituta sendo amada
E os homens a serem tolos... Torpes e insanos,
Não quero saber...

Não quero saber
Quais são os acordes da canção,
Estrangularei todos os livros e partituras
Se a porta range ou não, pois sei... está cerrada,
Como a janela, não há mais serenatas
a cantar para mim
Pássaro que faz ronda em qualquer merda.
Não quero saber...

Não quero saber
Se as flores falam ou não,
Meus ouvidos não irão escutar o despetalar ,
Os gritos dos excluídos,
remoendo o que não pôde ser !
Se a borboleta voa, seu zumbido não me faz dançar...
A cigarra esmagada não me faz acordar

Não quero saber
Se haverá qualquer som ou tom.
A banda passou e eu não ouvi,
foi impedida minha avenida, proibida...
Não quero derrubar obstáculos
Pois minhas mãos são fracas e silenciosas!

Não quero saber
Se o mar quer ou não.
pois Deus não responde defronte ao oceano
a todas as indagações que fiz,
Sua voz está na montanha!
Taciturna...Primeiros passos...
Mergulho...Tal qual Deus me deu respostas...
Muda nos cascalhos de tantos anos

Não quero saber
Os alertas, os perigos e os faróis serão nada.
Vaga-lumes sem luz...
Tragada, engolida e não voltar...
Não me dê a tua mão falsa,
âncora de plástico,
Tua rede, teus galeões,
nem teu rogo e gestos gentis!
Odeio palavras mentirosas e vis,
decoradas de algum caderno pobre..
Não vou escutá-las, não engulo traições!
Não me salve de mais nada ,
Pois do contrário serei sofrida.

Não quero saber
Serei levada pela espuma como bolhas de sabão;
A lavar, a salgar meu corpo sem respiração,
Sem redenção ou ressurreição
Sem lápide, sem data...
para que a pedra não seja pingada e furada,
Porque não quero ouvir gotejo de teu choro!

Não quero saber
das manchetes, missas e as pagãs com velas .
Calar já foi o castigo... Impotências do escutar!
O vento uivará sozinho a oração...
Nem sequer o tempo eu quero lá saber !
Pois não existirei mais, pois agora não te ouço.

Não quero saber
das letras que escreveu na areia,
As ondas curtas levaram-nas ...
Irei ao encontro das profundas verdades...
Pois dentro do mar morarei sem as dúvidas,
com a boca transparente,
sem pronunciar o que foi amar !
Silêncio...

E as gaivotas dançarão caladas
As gaivotas...




CINTIA THOMÉ



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