"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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22 de jan. de 2009

LAVADA LOUCURA





LAVADA LOUCURA


Suplico que os céus lavem as minhas indagações que calaram o sorriso, andante que sou que lavem os campos, as estradas, os trilhos, as ruas, as calçadas, as vitrines que espelham embaçado o personagem que tem a vontade, a cobiça de ser o que não pode ser. Ou foi? Ou não mais será?

Reveste-me líquida, uma enxurrada sem destino... Um véu em cachoeira lapidando-me... em pedra... Sem rosto, sem carranca. Não quero perfumes e nem bolhas de sabão, nem sais a descansar as mágoas de um pulmão já cheio de respirar a poeira dos hipócritas.

Quero água, chuveiro, chuva, até cair todos os fios do cabelo da cabeça, da inteligência e virar a Louca sã e salva deste paraíso infernal do faz-de-conta, desenho animado, claquetes de inúmeros atos... Torre de Babel encantada, requentada.

Devora-me pastosa sem o betume, alagando meus pés de verniz coalhado. Embriaga-me deste charco em tempestade. Que seja breve o parir dos negrumes dejetos dos anos, vômitos esverdeados guardados, mofos... Evaporando todas as podridões engolidas, degustadas, cuspindo os demônios... fumaça dos malvados seres de plantão.

Somente uma gota eterna, virgem, na possível rosa.

Etérea.



Cintia Thomé


Trecho/texto, em fevereiro 2008.

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