"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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19 de nov. de 2010

espera



No teto lustre tremente aceso
Zumbidos das asas do calor de verão
O resto é silêncio, é dor d’alma
A toalha bordada, filigranas viçosos
Rosas que nunca padeceram
Estrelas que reluzem, como em natalícios dias
Folhas anunciando caminhos
Ao trigo, a fatura de vida, que nada!

Há a vela apagada, uma benção amaldiçoada
Fogo que não veio, morreu no meio, mas chorou
E assim fria diz que não adiantou fé
Minha mão estendida sobre a toalha
Num lago que reflete o absurdo
Não é espelho de minha alma
Incomada estático, engomado

Às minhas costas as pedras dos anos
As mesmas, as quais foram atiradas
Enterrando-me em teu pensamento
Sem deixar rastro, sem passo
Esperando dolorosa fiquei...

No entanto, o ruído lá fora, anuncia florescências
De uma flor rastejante qualquer
tanto faz quem floresça, pois quero você...
Pois jaz uma toalha nua de teus gestos
Vivos anos de espera junto ao cálice
E no sangue vinho, ranço de resto ficou
Amargou meu coração, teu nome

Ainda que filigranas eu teça
Com as agulhas dos ponteiros das horas
Ao toque dos meus dedos uma música
Teu nome transparente ecoa como vento

Faz-me sonhar com guizos da chegada
à minha porta, brilho renasça
Tua mão, flores nunca ofertadas, nunca vistas
Enfeitando a minha alegria,
deitadas à toalha,
Perfume aos nossos abraços
Uma alvura em nossos risos
A nossa grande festa



Cíntia Thomé



(2009)








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