"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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8 de dez. de 2011

FLOR DO DESERTO



Sou flor da terra, nasci assim. Impuseram-me como Flor. Nome? Maria... Um nome banal que todas as santas colocam à frente. Não nasci santa, nem em castidade e fervor, mas a força de resistir. No início, eu tinha vizinhos, iguais, mas os anos passam, outros não chegaram ao meio do século. Eu já quase indo a secular, vejo que o sol nasceu para todos, mas a terra não, as coisas da terra, as supérfluas só para alguns.E nao tem medo da morte e nem do fim das coisas. Efêmeras foram e serão ainda para algumas que estão longe de mim. Nasci na efemeridade constante, desgarrou-se de minhas mãos, de minhas folhas todos e todas as coisas... e apesar de ter amado, erguido minha cabeça, trabalhando meu corpo para ver a luz, como um girassol, cansei e percebi que a escuridão me quis, noites de frio e de calor, mas só. Cabeça beijando chão. Girassol travesti-me por muito tempo, enganei-me. Aceitação do destino. Flor Maria, Flor Rosa... Sim, sim me lembrei da Rosa, minha amiga, acompanhou-me. Mas fugiu por temer ver a minha dor e eu quase morta. Mas a poesia do vento, o som acordou-me. E sobrevivo nesse campo devastado, de ninguém... com palavras a engasgar, a tapar a boca, compreendendo a alma humana. Conclui etapas, quase todas, muitas flores não puderam ver a virada do meio século... e eu a caminho. A poesia alimenta e não nos deixa morrer de fome das coisas boas e bonitas que na realidade não experimentamos, imaginários, desvarios. Escrevendo loucuras nas areias... Sou Flor da terra de ninguém, Maria é meu nome que a chuva benta batizou-me e quase toda terra tem... Porém, sou Flor do Deserto, sobrevivente no árido, porque entendi o som do vento...

cintia thome































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