"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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9 de nov. de 2011

Relógios dançam


Um dia pensei que a infância era o lado com mais cores, todas nuances e lá havia música, muita música, desde o relógio de minha avó anunciando o término da sesta até o gato no telhado nas noites de cio e bem te vis nas manhãs antes de ir a escola, havia a alegria... Com os anos tentei rever essas cores nas viagens, nos novos amigos, nas ruas, na margarida entre os cabelos, no fog cinzento às vitrines e seus manequins calados, mas havia a música de um bar, de uma carnaval a fantasia, nos globos neons, no agito das noites acordadas , tilintar de copos, brilhos, cintilava meus dentes como fachos de luz, havia alegria. Percebendo a hora de agregar a essa vida outras vidas que me trouxeram o consequentemente o relógio, mesa farta, conversas altas, risadas, quedas, choros diminutos, a música... a sesta das crianças, os brinquedos multicores, gatos no telhado, passarinhos, cãezinhos , a escola . Havia alegria. Hoje volto o pensamento à casa , a hora, minuto a minuto, a cor castanha das imagens, o som longínquo, quase inaudível, desperto e bem te vis cantam. Há música, não há alegria, há a saudade tanta do caminhar e ver os manequins calados e o som de meus saltos altos e pensamentos lunáticos e óculos escuros e todas as nuances do mundo em margaridas de paz. Gatos no telhado.
A hora máxima, Big Ben!





Cintia Thomé











Foto Cartier

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