"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





.

27 de jun. de 2010

BELA DA MANHÃ


BELA DA MANHÃ

Reabri meus olhos tantas vezes
Despertando em cio e desejo
Meu corpo saciado doía
Em vão mais um amante fugia
Entre os meus dedos febris
Os sapatos de cristais apertados
As roupas jogadas
No chão vadio
A alma pedra vazia

Desmoronando castelos das cartas
Do jogo da dama perdida
Lavava o rosto a vergonha
No arrastar dos dias
Acordada aguada me proibia
Olhares de cobiça
Deleites e beijos ardentes
Apertando os seios para estar viva
No calor só de mim mesma
Os pelos lisos e penteados
Esperando à hora de enlouquecer
Na solidão no leito e peito
Olhos cerrados quase eu fenecia
No sonhar dos beijos de posse
O suor escorrer no quente do afago
Os espíritos tremulando
Tua boca despertando a minha carne
Tuas garras arranhando meu dorso
Nos gritos e quarto abafados
Balançando nus na passagem das horas
Sendo a bela da tarde entardecendo
Sendo a bela adormecida
Morrendo frágil entre teus braços
Anoitecendo... Amanhecendo
No sol que arde
A pomba arrulhando
Lá fora...

Cíntia Thomé







Imagem: A. Hernandez - site Olhares - Lisboa Portugal

Nenhum comentário: