"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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12 de out. de 2009

cara coroa








...Se tuas mãos são minha casa
e teu olhar é o meu destino
se teu corpo é meu alento
e teu ar da minha vela é vento
para quê ainda existo à parte
se em teu ser sou simples arte
mera consequência dos teus atos
versos meus nada revelam
se meus gestos nem me são inatos
e meus lábios silenciosos selam
a jura eterna e condescendente
que sopro aliviada entre os dentes
inflorescências olhos meus são tua luz
cega na escuridão plena procuro
entre nós existe um alto muro
que em nada a nós dois separa
eu sou coroa tua
e tu és minha cara...



(retalhos)


Cíntia Thomé





A poetisa da lavra viva

Quando conheci a Cintia Thomé em Sampa das garoas quentes, do lado esquerdo de dentro do Buca Del Pazzio, parecia uma fêmea assustada com os valores melancólicos dos amores e canções de toda humanidade, e a química brotou espontaneamente na paralela dos verbos.

Um par de olhos de folha verde com a seiva avisando o imprevisível que tomaria conta das nossas vontades. Pensávamos e pretendíamos que perdurassem anos e assim foi em cordões invisíveis. Amores partem na mesma intensidade que chegam a forma de estrelas cadentes.

Jamais saberíamos das nossas fragilidades e todo toque era inusitado. Os nossos desejos não eram indiferentes a nossa vontade, formando diálogos no abrir e fechar dos olhos verdes de folha minha. Uma mão por cima da outra seria capaz de soldar os corações pulsantes por uma eternidade.

Em cada pingo de solda um verso na quadra da lua! A antropofagia que intuía nossos corpos nos fez singular, frágeis, sedentos na completude do amor. A sua fala coloquial tomava o contorno feiticeiro dos grandes mestres da poesia e o tempo foi ao infinito… E permanece em mim.

Olympio de Azevedo
Jornalista













Imagem: Olhares - A. Hernandez

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