"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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28 de mai. de 2009

INICIAIS E INÍCIOS



INICIAIS E INÍCIOS


Oh Meu Amor
Vejo atrás dos bordados
As costas das pedras
safira e rubi
Todos os fios púrpuros
Que ligam uma à outra pedra
Nossas iniciais no lenço
Monograma, filetes
De um ouro de Vida mais Vida
Ah lenço que não chegaste a ver
E chorei fertilizando as pedras
Limo, escorregadia existencia
O avesso tortuoso de caminhos
Às vezes claros cordões, vivos
Cores vibrantes, momentos inebriantes
Outros com lamento
Molhados e negrejados
Perdendo cor, quase luto,
um aborto
Os sonhos padeciam de dor
Mas a esperança, o verde da vida
Rebrotava safira e rubi
Uníamos em filigrana


Oh Meu Amor
Mas a tesoura do mal
Conflito alheio deste mundo
Desfiava aflitos fios carnais
Partíamos... Separávamos
Ah roto lenço!
Tão envelhecido
Não cabem todas as gotas
Pedraria tão fosca
Minhas lágrimas opacas
pela insana partida
Sobram folhas e flores
Sobre nossos nomes
Nossos inícios
Já tão longínquos
Agora guardados, cascalhos
na gaveta das estórias
das memórias
iniciais.




cintia thome






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