"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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13 de mar. de 2008

JASMINS MOFADOS


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JASMINS MOFADOS



Sobrevoe no caudaloso céu que só aqui resvala
A negritude do bem que sepultas
Com as ervas daninhas que fazem cócegas
Aos pés da pedra filosofal
Que transcende a alma e o limbo das línguas
Nos véus a esconder a vergonha de ter sido vida
No ventre, aquela seiva úmida das folhas manhãs
Conduza o vento a tocar a lira da próxima noite
Em finos jasmineiros e cravos mofados
Arranque as penas dos corvos famintos
Que espreitam a vinda do próximo habitante
Orvalhe os olhares das madonas
Monas, Monalisas que repousaram os cílios trêmulos
Em sua boca, gosto da falsa saudade
No cântico dos cânticos das uvas maduras
Que deleitaste
antes de um sono fugaz outrora
Respingam as hastes das videiras em negro leite
Rosários
Maculando a sua mão que condenou
Anunciou os poucos dias da amada ninfa
Seu amor range dentes, delata teu pecado
Seus olhos nada mais verão nos meus
A face já é sem a boca que queima
E não contempla as estrelas e sóis
Olhos sem meninas girassóis
Não segure as mãos juntas, pois sangue escorrerá frio
Pois elas espalmadas protegem as folhas de outonos
A liberta carne em mármore
O oco útero, ninho sementeira
Este enlace eterno e derradeiro
Vida e tempo
Mãos descansam na última oração
Por ti, Amor
Que aqui não morre,
Mas desaparece.


Cíntia Thomé


Dedico a Renato Tores (Belém, PA)
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