"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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23 de ago. de 2010

restos


Um guarda-roupa
Guarda corpo
guarda tantos restos
Uma névoa de dia inesquecível
Guarda cheiro sonhado
Guarda o vácuo, o vão
essencia do toque
Guarda o ultraje da carne
guarda o pentrante olhar
guarda o resvalar de uma barba
o morder morno de uma nuca
guarda ofegante respiração
guarda o desejo despido
guarda um resquício
tecidos na poeira de chão
guarda engomada
a mancha do príncipio
guarda arrependimento
mágoa amassada
amarfanhada e gota d'água
uma seca lágrima do ontem
guarda vida interrompida, rasgada

amor guardado,um sangue paixão
um negro gato,infindável luto
guarda uma névoa de esquecimento
guarda um dono
arrasador abandono
na roupa-guarda



cíntia thomé















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