"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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10 de jun. de 2010

SALVADOR DA FULÔ - ao mes junino...


Antonio Poteiro - Serigrafia - 'Nossa Senhora do Brasil'



SALVADOR DA FULÔ

Minha mainha rezadera
Reza pra ele vi mi buscá
Di modo qui num quero
Sentinela chegá e me pegá
Antes que alevante a morte
Quero flor di amor
Seja na chuva o nu calô

Sou mulé di cantadô
Di radinhu de pia e viola
Sou a primeira fulô
di retirante de sum paulo
Da cidade grande escangalhada
Dexô chero de pimenta
Pra me matá toda di vontade

Trais meu homi outra veis
Pois num si esqueci dessi homi
O dono do boi que mi encantô
Faço trancinha bem bunita
Um só vestido de chita, sem enxová
Só um beijinho doce e muita fita

Quero brincá di roda
Meu par na foguera pulá
Com banda e vetrola
Banderola e balão lá nu alto
Junto as estreila
E um padinho pra casá
Um punhadin di guiné e alecrim
Uma cruiz e o Nosso Senhô

Pois tenho no fundo desse coração
Uma riqueza imensa
Di cuentru e manjericão
Um resguardo danado de sabô
Dessi safado do sertão
Que num feiz me arreliá
Meu Menino em questão
Ô meu amô!

Minha mainha
Tem dó di mim, di mim
Puis veila pros Padinho
Nas incruzilhada do distino
Ciço e pro doutô ACMs pra aliviá
Pra modi qui eles adiantá a licensia
Minha querência do forastero salvadô
Fazê minhas aligria, me conquistá
Meu querê, meu amô

Trais mulé de Deus
To doida di sodade
Sodade...Sodade!

Cíntia Thomé

1983 refeito em 2007/08.




A amigos queridos Bea, Marcos, Oly, Kika...



Imagem: artista Antonio Poteiro - Serigrafia - 'Nossa Senhora do Brasil'

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