"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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18 de mai. de 2010

VERNIZ GAIATO


VERNIZ GAIATO

Mudo o tempo das falas altas
Quero ouvir o que tem a dizer
Junto ao lápis que cai comigo
Escreva nas entrelinhas do meu poema
Nos raios, nos vãos empoeirados desse chão
em suas ramificações pardas bem desenhadas
Sufocadas pelo brilho velho, um verniz gaiato
só sujeira se solta de uma saudade
à imaginação de ouvir baixinho suas desculpas
em todas as estórias de cada sapato
que aqui passou
foram escondidas no avesso do tapete
Que a lavanderia ainda não entregou
Assim eu lavo a sua passagem, um rastro
E a mensagem insignificante
um escorregadio verniz gaiato
que ainda me faz tombar
em ínfimos porquês e no vazio
a procura do lápis
que sem ponta
cala-se




cíntia thomé








Imagem: Cíntia Thomé - manipulada - Varanda/Rio.

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