"A profundeza abissal da palavra declamada
ecoa nítida na linguagem abstrata
das mãos (gestos prontos),
e o atrito dos dias confunde as cicatrizes do tempo,
derramado sobre a mesa o poema
ignora nas pálpebras o pesadelo do sonho"

(Júlio Rodrigues Correia)





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18 de nov. de 2024

Anoitecendo




"

.. Daquele querer por querer

Anoiteceremos

Ao marfim dos dias

De amor ".por amor."



Cintia Thomé

Maria Cintia Thomé Teixeira Pinto


...

Ainda assim, teus olhos




mesmo que digam que acabou
não disseram nada de mim
calaram-se

sei que demorou
a cortina cair
desabou a priori

mas mesmo assim
toda luz iluminou
sempre sim, sempre assim

todas as frestas do telhado do peito
molhado músculo, todas as lágrimas
ainda assim
seus olhos ardiam nos meus

Cintia Thomé
Maria Cintia Thomé Teixeira Pinto


 


Os grãos de mostarda voam

soltos, revoltos vão as cavernas

os labirintos das veias, as artérias do ontem, dos séculos

voam a chibatadas do vento

num sopro de velas mal comidas

no frio do ventre sem espumas de amor

quebram parafinas das intermináveis novenas

e agora? nunca!

Devolva a Terra o meu sangue

perdido no tempo da promessa

das ilusões sentimentos nobres, das bocas articuladas

cuspindo fétidos perfumes, mau hálito das ervas

sonhos decompostos deste sorrateiro ser

fantasma dos meus passados

a agulha, seu dente que feriu-me

boba, quase adolescente, em rouge pálido

sangrou corpo e o apaguei na memória

vieste a lembrança das antigas mágoas

como água vi meus olhos rasos

impedi a verdadeira estória

na solicitude de reflorescência honrosa,

sem vírgulas e pontos

em caixas de pandora, em laços já desfeitos?

corre vazio de agora a dúvida sem sabê-la

sem começo vai leve como folha quebrada

desmaiada desintegra quase pó

por que já a hora aproxima-se

e leva a docilidade de mim

sem que fizeste estancar a ferida

no incerto, no duvidoso não tenhas feito nada

só ilusões e mentiras

você vocifera no canto desse coração

por que não pronunciei palavras

de culpa para ver nossas asas livres

então indague, não tenho respostas

leva ao firmamento em seu pensamento

é tudo que resta, restou até o completo desaparecimento

é a estrela que brilha ao miolo das flores

no talo alto que ali lamento, das rosas dos ventos...

dos ventos, dos ventos

Cintia Thomé



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17 de set. de 2018

PÉROLA DO ANEL

PÉROLA DO ANEL


Moeda d’ouro
Um pedido ido
Molhado, aguado
Na encosta do rio,
Margeia mundo
A fonte, oceano
Areia e sal
Tantos anos
Pérola do anel
Caço, à espreita
Aprendiz
Vem sol, vêm luas
Alforria, ou presa,
Vai à ampulheta
Dos acasos, dos casos
Debulho
Fragmentos
Fios d’água
Marés, cascalhos, raiz
Angel fire
Leva na algibeira
Ladrão do mar
Rouba, voa
A mensageira
Pomba
Fire Bird...
Eu
Junto às cinzas
Ostra
Como tantas outras


Cintia Thomé 

1987